Oito idas à UPA: "Uma vida interrompida por falta de diagnóstico", diz mãe de adolescente que morreu de apendicite
- CMG NEWS
- 18 de abr.
- 3 min de leitura

Lívia Goulart Belmiro, 16 anos, moradora do Mathias Velho teve infecção generalizada após a inflamação do apêndice estourar. Prefeitura vai abrir sindicância para apurar o caso
“Uma vida interrompida pela falta de diagnóstico correto”, lamenta a mãe de Lívia Goulart Belmiro, Jaqueline Goulart. A jovem de 16 anos, moradora do bairro Mathias Velho, em Canoas, morreu dia 9 de abril em decorrência de uma infecção generalizada a partir de um quadro agudo de apendicite não diagnosticado e tratado em tempo hábil. Durante o mês de março, Jaqueline levou Lívia oito vezes para atendimento na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Liberty Dick Conter, conhecida popularmente como UPA Caçapava. Por meio de nota, a Prefeitura de Canoas informou que será aberta uma sindicância com auditores internos e, se necessário, externos para apurar os fatos. “Sim, oito vezes. E em todas, a saúde da minha filha foi negligenciada. Um descaso. Ninguém merece ser atendido assim. Foram pedidos exames aleatórios e receitados medicamentos da mesma forma. Em um dos atendimentos, foi identificada uma infecção urinária, ela foi medicada e mandada para casa”, conta a mãe com a voz embargada. A reportagem teve acesso aos registros médicos e documentos gerados pelos atendimentos. Entre os dias 12 e 31 de março, entre as medicações receitadas, se destacam remédios para dor, como Lívia Goulart Foto: Arquivo pessoal dipirona, paracetamol, ibuprofeno e buscopam.
Entre os exames solicitados, constam hemograma, radiografia do tórax e ecografia do aparelho urinário. Em um dos atendimentos, o prontuário apontou que Lívia apresentava um quadro de ansiedade. “Minha filha urrava de dor. Era medicada e liberada para voltar para casa. Ela recebeu atestados de um, dois, três dias. As dores aliviavam só hora. No dia seguinte, a dor voltava a ficar pior. Ninguém foi capaz de pedir o exame correto para dar uma chance para minha menina.” No último atendimento realizado na UPA Caçapava, dia 31 de março, Lívia retornou com fortes dores nas costas e com a observação de “vômito há três semanas, sem melhora”. Sem diagnóstico e tratamento, a infecção chegou aos pulmões da jovem. “A inflamação do apêndice estourou e a infecção se espalhou”, afirma a mãe de Lívia. Com a piora no quadro de saúde, Jaqueline conseguiu um leito para a filha no Hospital Nossa Senhora das Graças (HNSG), no dia 3 de abril.
“Foi no Graças que ela fez uma tomografia que constatou a apendicite. Infelizmente, já era tarde demais. Ela passou por duas cirurgias para lavar os órgãos. Deixaram a barriga aberta, só fecharam na última cirurgia, porém, não surtiu efeito. Ela foi medicada com remédios para infecção e febre. Ficou ligada a vários aparelhos, mas tragicamente ela se foi no dia 9 de abril.”
Devastada com a perda da filha, a auxiliar de serviços gerais pede justiça. Lívia completaria 17 anos no dia 18 de maio. A adolescente era estudante da Escola Estadual de Ensino Médio Guilherme de Almeida. “Perdi o meu bem mais valioso. Como vou viver? Minha filha era a pessoa mais linda e pura que você poderia conhecer, era um anjo. Um amor de criança, era o anjinho da mãe. Maio será mais um mês terrível, Dia das Mães e aniversário da Lívia. Eu quero justiça. Eles não podem continuar atendendo às pessoas como se não fossem nada. Estão se livrando das pessoas, como se fossem um problema”, desabafa Jaqueline.
Pedido de investigação Nesta quarta-feira (16), o vereador Ezequiel Vargas (PL), por meio das redes sociais, informou que protocolou um pedido para que as autoridades competentes investiguem o caso. Em solicitação ao Ministério Público do Rio Grande do Sul (MP-RS), o parlamentar pede o afastamento imediato de sete médicos que prestam serviços ao sistema municipal de saúde de Canoas. Reportagem por
Taís Forgearini via Diário de Canoas
Comments